quinta-feira, 14 de maio de 2015

Incidências, persistências e reticências.

Segundo o dicionário de símbolos, o número sete representa “a totalidade, a perfeição, a consciência, a intuição, a espiritualidade e vontade. O sete simboliza também conclusão cíclica e renovação. Mas justamente por representar o fim de um ciclo e o começo de um novo, é um número que também traz a ansiedade pelo desconhecido”.

Apesar do clima chuvoso em Brasília, em pleno mês de maio, onde os ipês já deveriam estar florindo e a cidade deveria estar encardida de poeira do cerrado, a VII Assembleia da Rede Brasileira de Comitês de Tuberculose parecia um piquenique sabático e ensolarado, à beira da praia, com referências regionais dos mais diversos lugares do país. 

Abará? Tinha. Azulejos maranhenses? Também. Rapadura? Mole não estava. Mate? Vi uma cuia passando por ali. Milonga? Cantada e encantada. O molejo do Carlos? Acordou a todos depois do almoço.

Talvez seja o número sete, talvez. O fato é que mesmo com pouco recurso, a assembleia foi um sucesso. 

O aperto na sala? Aqueceu do frio outonal. A sala de audiovisual? Rendeu boas risadas. A baixa diária? Aproximou o coletivo. O entendimento-desentendido foi finalmente compreendido e transformado na primeira proposta a ser apresentada pela Rede Brasileira de Comitês para as Conferências de Saúde e Assistência Social. Para ler o documento, clique aqui.

Tuberculose? Bom, essa passou longe dos pulmões, mas bem perto dos corações.

Diferentemente das reuniões do Comitê gestor, que acontecem duas vezes por ano, a assembleia permite a participação de outros 2 integrantes de cada comitê, o que acaba por enriquecer ainda mais as discussões, as propostas e os produtos advindos do encontro.

Milonga da tuberculose agitando a Assembleia!
A participação de Sueli, Promotora de Justiça do Pará, reforçou a importância do diálogo com os diferentes setores (aquela tão sonhada intersetorialidade!) e enriqueceu a discussão e a revisão da agenda política da Rede. 

Os agentes comunitários de saúde do município de Itaiópolis, Aldair, Altair, Claudinete e Ziluá trouxeram a milonga “Hoje eu sei, a tuberculose tem cura!” que ganhou o primeiro lugar do Concurso de Paródias da Tuberculose de Santa Catarina. O remédio lúdico para encorajar pacientes e profissionais de saúde a abraçarem o tratamento e a causa em forma de poesia.

O querido Otávio, do Ceará, certamente teria ficado orgulhoso do quarteto. Infelizmente, ele teve um problema de saúde e não pode participar de todo o encontro. Logo ele que sempre lutou pela inclusão da poesia nos demais eventos da Rede, que sempre trouxe música, esquete, e o sorriso implacável de quem ama as artes. O que importa é que nosso ativista cearense está bem cuidado e certamente foi lembrado em cada estrofe da milonga recitado.

Depois de seis assembleias tratando de temas que pudessem fortalecer politicamente, tecnicamente e economicamente os comitês, a sétima nos brindou com a apresentação de experiências exitosas que vão muito além do setor saúde e buscam atender ao usuário em sua integralidade. (Para conhecer a agenda política clique aqui)

É o caso do projeto “Pactu pela cura” da cidade de São Paulo, que tem como estratégia de adesão ao tratamento, o desenvolvimento do Projeto Terapêutico Singular (PTS) para pessoas com tuberculose que vivem em situação de rua. A partir da articulação intra e intersetorial, o projeto vai muito além da cura da doença e busca o resgate da autoestima, da cidadania e da conquista da inclusão social. Saiba mais sobre o projeto aqui.

Abertura: Virgínia Perrucho (BA), Euclides Neto (AM),
Fabio Moherdaui (PNCT), Carlos Duarte (CNS)
e Jucileide Nascimento (CNAS)
Se o objetivo principal do evento era a incidência política nas conferencias, este foi alcançado com maestria.

A mesa composta pelo Conselheiro de Saúde, Carlos Duarte, e pela Conselheira de Assistência Social, Jucileide Nascimento, não poderia ter incitado  debate melhor, talvez o mais rico das Assembleias.

Nunca antes na história deste país... Diria certo político.

Além disso, a apresentação da nova estratégia global pós 2015, alinhada às resoluções do Conselho Nacional de Saúde e à agenda política da Rede, retirou a estratégia global daquele lugar etéreo, distante, quase ficcional, e o trouxe para a realidade local, mostrando que ainda que em diferentes esferas, o trabalho, a busca e as metas são as mesmas. Confira aqui a apresentação.

Tanto a discussão como a apresentação subsidiaram a construção de uma proposta a ser defendida nas Conferências de Saúde e de Assistência Social, disputando, com outras tantas, um lugar ao sol nos documentos finais de cada uma. 

Posse dos novos integrantes do Comitê Gestor
Ainda que a proposta não seja incluída, a maior vitória é da Rede de Brasileira de Comitês de Tuberculose, que entre trancos e barrancos (Ah, essa crise econômica!), sai da sétima Assembleia mais unida e fortalecida, com ferramentas capazes de transformar um tema tão delicado como a saúde (ou seria a falta dela?) em alegria de ser e de viver. Seja para o usuário, ativista, gestor ou profissional da saúde.

Ah! Um salve para os novos representantes do Comitê Gestor da Rede empossados na ocasião! Aos que partem, a nossa eterna gratidão. Aos que chegam, o legado e o bastão!




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