segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Projeto do Ministério da Saúde e da FAP promove revolução no tratamento da tuberculose no país

Da FAP

 O projeto “Inovação no controle da tuberculose no Brasil” chegou ao fim em dezembro, deixando como legado uma revolução no diagnóstico e tratamento da tuberculose no Brasil. Realizado pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) - vinculado ao Ministério da Saúde – e pela Fundação Ataulpho de Paiva (FAP), o projeto avaliou a adoção  de um novo esquema terapêutico, com a introdução de um novo fármaco para tratar a tuberculose no país e acompanhou os estudos e a implantação de um teste que detecta a doença de forma mais rápida e eficiente. A previsão é que o novo exame, que identifica a doença em menos de duas horas, comece a ser usado no país no primeiro trimestre de 2014. O projeto contou com o patrocínio da Fundação Bill e Melinda Gates.

Até 2009, o país era o único de alta carga de tuberculose a usar apenas três fármacos  – rifampicina, isoniazida e pirazinamida (RHZ) - no tratamento da doença. Em dezembro do mesmo ano, o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) recomendou a mudança do tratamento para incluir mais um fármaco, o etambutol, em comprimidos em dose fixa combinada – regime já recomendado há alguns anos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).  Desde 2011, o 4 em 1 (como é conhecido) é utilizado oficialmente na terapêutica. Oito mil profissionais foram capacitados no Brasil para a introdução do 4 em 1 e o investimento realizado desde 2009 foi de R$ 3 milhões.

Outra novidade foi a introdução do Xpert® MTB/Rif, método mais rápido e eficaz para diagnosticar tuberculose, que ainda este ano será utilizado no país inteiro. Aprovado oficialmente em outubro pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia do Ministério da Saúde (Conitec), o teste foi avaliado no Rio de Janeiro e em Manaus – duas cidades com alta taxa de incidência de doença – para observar a aceitabilidade e do custo-efetividade. Com base em técnicas de biologia molecular, o Xpert detecta o agente causador da tuberculose com mais de 90% de sensibilidade e mais de 95% de especificidade (certeza de que não é outra doença) em menos de duas horas, substituindo progressivamente o diagnóstico por baciloscopia que é realizado há mais de um século.

“Desde a descoberta do bacilo de Koch, em 1882, o diagnóstico da tuberculose praticamente não mudou, sempre foi feito por meio da visualização do bacilo no microscópio. Agora temos o diagnóstico realizado por biologia molecular em tempo real, um teste rápido, de fácil execução, baixo custo e com muito maior acurácia do que o anterior; além disso temos novas drogas, novos esquemas terapêuticos e uma política de controle muito mais ousada, arrojada e com forte componente de proteção social para as pessoas afetadas pelo doença”, explica o coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, Draurio Barreira. “O projeto contribui para esse momento. O enfrentamento da tuberculose mudou de paradigma, podemos garantir que a tuberculose não é mais uma doença negligenciada”, destaca.

No total, foram comprados 30 mil testes, metade usada na primeira fase do projeto, no Rio e em Manaus e, a outra metade nos testes diários. Os primeiros  estados a utilizar o novo teste serão Amazonas, Distrito Federal, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. As seis capitais, no entanto, não utilizarão exclusivamente o Xpert, pois a baciloscopia continuará a ser realizada para acompanhamento dos casos (não mais para diagnóstico).

“Esta inovação mudou o comportamento que ao longo dos anos a comunidade médica abraçou e foi muito importante porque projetos como este resultam na qualidade de vida da população”, destaca o presidente da Fundação Ataulpho de Paiva, Germano Gerhardt Filho. Gestora do projeto, a Fundação Ataulpho de Paiva (Liga Brasileira Contra a Tuberculose) é a única produtora da vacina BCG no Brasil e a primeira instituição a combater a tuberculose no país. 

Exemplo no exterior - Um dos objetivos do Inco-tb também é o compartilhamento da experiência com outros países, sobretudo os africanos. A experiência com a incorporação de novidades no tratamento da doença no país foram compartilhadas no seminário “Inovações para o controle da tuberculose”, em Moçambique, na cidade de Maputo, em maio do ano passado. O resultado do encontro foi o compromisso de realizar uma política colaborativa de controle da tuberculose nos países de língua portuguesa.  O evento foi organizado pelo Instituto de Saúde de Moçambique e pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) do Brasil e por autoridades de saúde de Moçambique.