quarta-feira, 21 de março de 2018

Tuberculose: uma doença social

Fonte: Agência de Notícias da AIDS

Por Márcia Leão*

24 de março é o Dia Mundial de Luta Contra a Tuberculose. Considerada por parte do imaginário como uma doença do século passado, ela continua existindo e levando a morte milhares de brasileiros e brasileiras todos os anos. Mais cruel é verificar que ela ocorre principalmente entre populações vulneráveis, somando-se às dificuldades de acesso aos serviços públicos de saúde, o preconceito e as dificuldades de trabalho, moradia, saneamento e alimentação.

O Brasil tem impulsionado esforços no sentido de garantir testagem, acesso e tratamento a todos os atingidos (as) pela doença, grande parte deste empenho vem de ações da sociedade civil, que atua desde a articulação política nacional e internacional até o cotidiano no atendimento das pessoas afetadas, seus familiares e entorno social. É ali no dia a dia que se mede o efeito danoso da tuberculose na vida das pessoas e comunidades: a falta de informação gera o estigma e a discriminação, a falsa ideia de cura prematura gera a falta de adesão, a não testagem em algumas populações gera coinfecções que acabam levando ao isolamento, ao sofrimento e a morte.

A Parceria Brasileira contra a Tuberculose (Stopt TB/Brasil) – grupo formado por gestores, representantes da sociedade civil, da academia, de representações de fóruns e redes, agências internacionais e iniciativa privada, tem há mais de dez anos chamado a atenção para a necessidade do país voltar-se para ações amplas no controle da tuberculose. A busca de inclusão social é a grande ferramenta para que a doença seja reduzida em número de casos e, numa visão mais ampliada, tenha um fim como problema de saúde pública.

Fundamental é reafirmar em todos os espaços que a tuberculose existe e continua atingindo e matando muita gente, mas também é importante destacar que tem cura, desde que observado o preconizado no tratamento durante todo o seu período. Aliado a isto o apoio às pessoas afetadas é imprescindível para que a jornada de recuperação tenha um final positivo. Isto inclui a luta contra a exclusão social das populações mais atingidas: população em situação de rua, população prisional, pessoas que vivem com HIV e aids e população indígena. Olhando na perspectiva histórica são grupos que já acumulam vulnerabilidades, fruto do apartamento social que lhes é imposto, o que faz com as ações pelo controle da TB sejam também ações de direitos humanos.

O dia não é de festa, nem de comemoração, mas sim de um marco de compromisso e solidariedade com todos os atingidos pela tuberculose. Somando esforços atingiremos mais pessoas e garantiremos às próximas gerações uma realidade diferente, resultado das ações desenvolvidas hoje. Tuberculose tem cura, basta que um ambiente confiável envolva os pacientes e garanta a eles e elas uma qualidade de vida que o trate como cidadão e cidadã e não mero vetor de uma doença estigmatizadora.

* Márcia Leão é advogada e faz parte da Coordenação Executiva Colegiada da Parceria Brasileira contra a Tuberculose.

** Este texto foi elaborado coletivamente pela coordenação colegiada formada por: Márcia Leão, Jair Brandão, Liandro Lindner e Ricardo Malacarne.