terça-feira, 24 de novembro de 2015

Evento discute controle de doenças transmissíveis em populações vulneráveis

Texto da página: SVS/Ministério da Saúde

As estratégias para o controle de doenças transmissíveis em populações de maior vulnerabilidade foram discutidas na última sexta-feira (20) no Ciclo de Estudos, evento promovido em Brasília (DF) pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. O debate incluiu temas como o impacto das ações de proteção social na redução dos casos de doenças relacionadas à pobreza, a detecção e tratamento da tuberculose em presídios e a Campanha Nacional de Hanseníase, Geo-helmintíases e Tracoma.

As palestras do encontro foram ministradas pelo professor Maurício Lima Barreto, da Universidade Federal da Bahia, pela assessora Daniele Chaves Kuhleis, do Programa Nacional de Controle da Tuberculose da SVS, e pela assessora Jeann Marie da Rocha Marcelino, da Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação da SVS. A mediadora da sessão foi a diretora substituta do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da SVS, Wanessa Tenório de Oliveira.

Impacto das ações de proteção social

A apresentação de Maurício Barreto teve início com a exibição de um gráfico que demonstra a redução, entre 1930 e 2007, da participação das doenças infecciosas no total de óbitos no Brasil, em comparação com outras causas. Em 1930, quase metade das mortes ocorreu por doenças infecciosas. Em 2007, o percentual caiu para menos de 10%. “Isso é um reflexo de avanços que aconteceram no Brasil”, afirmou o professor, que citou os seguintes exemplos: a melhoria da qualidade da água, a ampliação do saneamento básico e a oferta de vacinas e tratamento. “Os sucessos, mesmo que parciais, no controle das doenças infecciosas, podem ser atribuídos ao sucesso das políticas públicas, muitas delas consideradas bastante eficientes, apesar de algumas ressalvas”, completou.

A crescente urbanização foi considerada um desafio do momento atual. “Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde e programas de transferência de renda e outros nas áreas sociais e ambientais são cruciais para o controle dessas doenças”, constatou. Ao tratar dos programas de transferência de renda, falou sobre o Bolsa Família, destacando a importância das condicionalidades que estimulam o acesso à educação e à saúde. Demonstrou, ainda, resultados de estudos que revelam o impacto positivo de políticas sociais nos índices de saúde.

Detecção e tratamento da tuberculose em presídios

Daniele Chaves Kuhleis apresentou dados de incidência e de casos novos de tuberculose nos presídios. Em 2014, o coeficiente de incidência no Brasil foi de 915,5 casos por 100 mil habitantes. No mesmo ano, apesar de a população privada de liberdade representar aproximadamente 0,3% da população brasileira, ela contribuiu com 7,3% dos casos novos de tuberculose notificados no país.

Além disso, é particularmente elevada a frequência de formas resistentes associadas ao tratamento irregular e à detecção tardia nesse grupo populacional. Por isso, ela ressaltou a relevância do desenvolvimento de estratégias de comunicação no sistema prisional, com mensagens que estimulem o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento sem interrupções.

A palestrante também discorreu sobre projeto iniciado no Presídio Central de Porto Alegre (RS). A iniciativa investiga a presença dos principais sintomas da doença em sua porta de entrada e oferece o exame de raio X de tórax para toda a população privada de liberdade. Nas pessoas com resultado de raio X de tórax suspeito ou tosse, são realizados o teste rápido molecular e a cultura no laboratório do presídio. Com essa rotina, é possível identificar a tuberculose precocemente e evitar que o bacilo seja transmitido para a comunidade interna e externa do presídio.

Entre outubro de 2014 e junho de 2015, foram diagnosticados 225 casos de tuberculose no Presídio Central de Porto Alegre, com uma prevalência de 3.083 casos por 100 mil habitantes. Foram avaliados 7.299 pacientes, a grande maioria (89,3%) no momento de entrada, sendo que 17,9% apresentaram raio X alterado. O teste de HIV foi feito por 48% das pessoas analisadas e 3,2% receberam resultado positivo.

A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa por via aérea. O ambiente carcerário favorece a transmissão devido, principalmente, à superpopulação e à ausência de ventilação e luz solar adequadas.

Clique aqui para acessar o texto "Alcançando a tuberculose no sistema prisional".

Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses e Tracoma

A palestra de Jeann Marie Marcelino abordou a Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses e Tracoma do Ministério da Saúde. Desde 10 de agosto, a iniciativa tem mobilizado agentes comunitários da saúde, equipes da estratégia de Saúde da Família, profissionais da educação e a sociedade civil de 2.339 municípios brasileiros com alta carga dessas doenças ou maior vulnerabilidade a este conjunto de doenças. Esta ação tem como público-alvo os estudantes da rede pública do ensino fundamental na faixa etária de 5 a 14 anos.

Os resultados parciais apontam que mais de 5,3 milhões de escolares receberam a ficha de autoimagem, cerca de 4 milhões devolveram a ficha à escola, 172 casos de hanseníase já foram diagnosticados e mais de 4,5 milhões de crianças foram tratadas para verminoses. Mais de 600 mil escolares foram examinados para tracoma e mais de 17 mil casos positivos foram encontrados até o momento. O fechamento dos dados ocorrerá no dia 29 de novembro.

A estratégia constitui-se na busca ativa de casos para diagnóstico precoce da hanseníase através da avaliação dos casos suspeitos identificados por meio do preenchimento da ficha de autoimagem, no tratamento quimioprofilático com albendazol para a redução da carga parasitária de geo-helmintíases e busca ativa de tracoma por meio de exame ocular externo, com tratamento dos positivos e seus contatos.

Houve uma significativa ampliação na cobertura da campanha, passando de 852 municípios em 2013 para 1.944 em 2014. Em 2014, a Campanha teve os seguintes resultados: 5,6 milhões de estudantes receberam a ficha de autoimagem, destes 4,1 milhões responderam, representando 74% do total; 231.247 alunos (5,6%) foram encaminhados às unidades de saúde para confirmação do diagnóstico; 354 (0,15%) crianças foram diagnosticadas com hanseníase. Os contatos destas crianças também foram registrados e examinados, de forma que 73 casos foram diagnosticados entre os contatos intradomiciliares dos casos novos diagnosticados na Campanha. Além disso, foram tratados 4.754.092 alunos para verminoses e 25.173 escolares foram diagnosticados para tracoma.