Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2015 – Chineses e brasileiros se encontraram no dia 9 de dezembro de 2015 para a realização do workshop “Avançando a Estratégia End TB”. O encontro foi realizado no auditório Arthur Neiva, do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Participaram do evento profissionais de saúde, pesquisadores e gestores dos programas de tuberculose de ambos os países.
A oficina foi promovida pela Rede Brasileira de Pesquisa em
Tuberculose – a Rede TB, pela vice-Presidência de Pesquisa da Fundação Oswaldo
Cruz e pelo Programa Nacional de Controle de Tuberculose do Ministério da Saúde.
A Rede TB é um grupo multiprofissional, com cerca de 300 pesquisadores,
pertencentes a 60 instituições brasileiras, atua como um fórum permanente de
interlocução para a identificação de problemas e oportunidades para o controle
da tuberculose, com foco em ações e estratégias em ciência, tecnologia e
inovação e mobilização social.
Durante a oficina, foram apresentados os programas nacionais
de controle da tuberculose dos dois países, com destaque para as dificuldades e
potencialidades de cada local. Também foram definidas as principais
necessidades em termos de pesquisa e de ações para o controle mais efetivo da
TB.
Ao final, os participantes se dividiram em grupos para listar
as principais necessidades e possíveis soluções e processos de cooperação
mútua.
Grupo 1
Um grupo ficou com o tema da ciência translacional, que é
aquela que pretende agilizar a transferência de resultados da pesquisa básica/fundamental
para pesquisas clínicas. O grupo discutiu sobre diagnósticos, biomarcadores,
detecção da TB latente, tratamento de TB ativa e terapias de prevenção.
Os temas em destaque foram:
- Em razão da escassez global do PPD Rt23 produzido pelo Serum Institut da Dinamarca, recentemente,
China e Rússia desenvolveram PPD recombinante que estão sendo validados. O
Brasil também está em fase de produção e validação de PPD recombinante.
- Novos diagnósticos para detecção rápida: a China
desenvolveu um sistema de PCR (sigla em inglês para reação em cadeia de
polimerase – que amplifica e detecta o DNA da bactéria, o que agiliza o
diagnóstico); uma segunda geração deverá detectar TB multirresistente (MDR) e
TB extensivamente resistente (XDR). Alguns protótipos para diagnóstico
molecular estão sendo desenvolvidos no Brasil (Fiocruz/IBMP).
- A China tem um ensaio em desenvolvimento com o uso de
gamma-interferon para a detecção de TB latente, que está sob avaliação. O
Brasil tem esforços semelhantes.
- A China também prevê uma vacina contra a tuberculose, que
ainda está em fase de desenvolvimento.
A China desenvolveu um novo fármaco chamado pheromonicin,
com bons resultados em estudos pré-clínicos (in vivo e in vitro). No Brasil, a
PUC-RS /Rede TB tem desenvolvido novos fármacos (também com bons resultados
pré-clínicos) e Farmanguinhos -Fiocruz tem produzido novas formulações de
medicamentos anti-TB.
Considerou-se prioritário o fortalecimento de Centros de
Pesquisa Pré-clínica, Clínica entre Brasil e China para analisar os fármacos,
vacinas e kits diagnósticos produzidos.
Grupo 2
O segundo grupo discutiu sobre Epidemiologia, Impacto da
Incorporação de Novas Tecnologias (Implementation
Science), Pesquisa Operacional e Pesquisa dos Sistemas de Saúde. As
ações foram elencadas de acordo com as seguintes prioridades:
- Objetivo principal da China: reduzir a taxa de incidência
de TB;
- Objetivo principal do Brasil: aumentar a taxa de cura;
- Populações prioritárias: pessoas que vivem com HIV, com
diabetes e pessoas privadas de liberdade (ambos os países), idosos e migrantes
internos (China); pessoas em situação de rua, indígenas e que fazem uso abusivo
de drogas (Brasil).
Os temas em destaque foram:
- Manejo da TB no nível da comunidade – identificar a melhor
abordagem para o diagnóstico e tratamento efetivo da TB ativa e TB latente –
intercâmbio de experiências entre Brasil e China.
- Desenvolvimento de indicadores que analisem o impacto
clínico e econômico da incorporação de novas tecnologias
- Estudos conjuntos de modelagem e custo efetividade de
intervenções regionais ou nacionais (i.e.: Cash transfer )
- Desenvolver Sistema Nacional de Notificação de TB latente
acoplado a protocolos comuns que aumentem a performance da identificação de TB
latente e seu tratamento efetivo
Considerou-se prioritário o fortalecimento de Unidades de
Saúde que participem na avaliação do Impacto de Novas Tecnologias bem como de
Pesquisas Operacionais.
Conclusões
O encontro deixou uma impressão positiva entre os
participantes, que pretendem retomar as possibilidades de cooperação ao longo
de 2016.
“Esse tipo de encontro é fundamental se quisermos avançar na
estratégia de eliminação da tuberculose como um problema de saúde pública.
Aumentar os esforços na área de pesquisa é um componente básico para a
estratégia, e a cooperação internacional pode agilizar muito esse processo”,
explicam Afrânio Kritski e Wim Degrave, respectivamente, diretor da Rede TB e
professor titular em tisiologia e pneumologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, e coordenador do Planejamento Estratégico da Vice-presidência da
Fiocruz .
Afrânio e Wim Degrave destacam ainda que mais encontros como
esses serão realizados em breve.
Foi consenso de que Brasil e China devem reunir esforços,
juntamente com Parlamentares de seus países, para desenvolver um Plano
Estratégico em Ciência Tecnologia e Inovação, visando a obtenção de financiamento
específicos para Tuberculose e outras Doenças Negligenciadas, promovendo
atividades conjuntas dos BRICS na Estratégia END-TB (2016-2035) e no Plano
Global Stop TB Partnership (20162020), transferência de tecnologias e validação
mútua de novos produtos e/ou tecnologias no Sistema de Saúde.
Sobre a Estratégia
End TB
A estratégia End TB foi formulada por diversos países no
âmbito da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Plano Global do Stop TB
Partnership (2016-2020). A estratégia é dividida em três pilares e tem metas
ambiciosas para a eliminação da tuberculose no mundo até 2035: redução de
mortes por tuberculose em 95% e menos de 10 casos por 100 mil habitantes.
Pilar 1 – Prevenção
e cuidado integrado com o paciente – diagnóstico, busca ativa entre populações
vulneráveis, tratamento de todos os casos de TB, manejo de coinfecção, etc.
Pilar 2 – Políticas
incisivas e sistemas de apoio – comprometimento político, alocação adequada de
recursos, envolvimento comunitário, organizações da sociedade civil, cobertura
universal em saúde, proteção social, redução da pobreza, etc.
Pilar 3 –
Intensificação da pesquisa e inovação – descoberta, desenvolvimento e rápida
absorção de novas ferramentas, pesquisa para otimizar a implantação e impacto
das ações, etc.
Clique nos links a seguir para
mais informações sobre a Estratégia End TB, sobre o Plano Global do Stop TB Partnership (em inglês) e sobre a Agenda Nacionalde Pesquisa elaborada em junho de 2015 pela Rede TB, Fiocruz e PNCT-SVS-MS.