sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Brasil propõe ação conjunta ao BRICS para medicamentos contra TB

Em consonância com os novos desafios globais para o controle da tuberculose, durante o  encontro de representantes de Ministérios da Saúde dos BRICS na 45º Conferencia Mundial de Saúde Pulmonar da UNION, em Barcelona, o Brasil propôs aos países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a compra conjunta de matéria-prima para a produção de medicamentos de primeira linha para o controle da tuberculose nos países de média e baixa renda. Uma ação como essa poderá garantir o acesso universal ao tratamento gratuito para os pacientes desses países, contribuindo sobremaneira para o controle da tuberculose no mundo.
A proposta compartilhada foi bem recebida, ficando cada país responsável por promover uma discussão interna para a construção de uma proposta oficial a ser discutida na reunião de ministros que acontecerá, em dezembro, no Brasil.
Nesta mesma semana Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou o Report da tuberculose 2014. O documento traz os principais dados sobre a situação epidemiológica da tuberculose no mundo e os avanços e desafios referentes ao atingimento das metas globais, tuberculose drogarresistente, coinfecção TB-HIV, financiamento e pesquisa e desenvolvimento.
Segundo o relatório, houve um aumento global do número de casos estimados, que passou de 8.6 milhões em 2012 para 9 milhões de casos novos em 2013. O número de óbitos foi estimado em 1.5 milhões em 2013, sendo 360 mil HIV positivos. Isto também se deve à melhoria na qualidade dos dados informados pelos países. Contudo, a lacuna entre os casos estimados e reportados persiste em torno de 3 milhões de casos.
O Brasil apresentou uma taxa de detecção de 82% e reportou 70.336 casos novos em 2013, mantendo a 16ª posição entre os 22 países de alta carga. Quanto ao coeficiente de incidência o país também manteve a 111ª posição, quando considerados todos os países do mundo, com um coeficiente de incidência de 35,7 casos por 100 mil habitantes. O coeficiente de mortalidade no país foi de 2,2 óbitos por 100 mil habitantes em 2013.
Em relação às metas globais estabelecidas para 2015, o objetivo do milênio de redução da incidência da doença foi atingido globalmente. A região das Américas e do Pacifico Ocidental atingiram as metas globais de redução da incidência, prevalência e mortalidade. Entre os 22 países de alta carga, nove atingiram os objetivos de redução da prevalência e mortalidade pela metade quando comparado a 1990, entre eles o Brasil. Além disso, o país atingiu todas as metas globais de redução da doença antes de 2015.
O Brasil, com 670 casos novos de tuberculose multidrogarresistente (TB-MDR) em 2013, não faz parte dos 27 países de alta carga de TB-MDR, mas essa continua sendo uma das grandes preocupações globais . O Report deste ano traz suplemento especial de vigilância e resposta à tuberculose drogarresistente, citando o Brasil quanto à implantação da vigilância sentinela da resistência primaria aos medicamentos.
Quanto ao financiamento, estima-se a necessidade de 8 bilhões de dólares anuais para a prevenção, diagnóstico e tratamento, e adicional de 2 bilhões só para pesquisa e desenvolvimento. Contudo, dos 8 bilhões estimados, os países reportaram terem investido 6.3 bilhões de dólares na luta contra a tuberculose.
Os BRICS, bloco do qual o Brasil faz parte e que são responsáveis por 50% dos casos de tuberculose do mundo, conseguem mobilizar os recursos necessários por fontes domésticas.  Os outros 17 países de alta carga apresentam aproximadamente 50% de financiamento internacional, sendo os principais doadores: o Fundo Global e o governo americano.
A nova estratégia pós-2015 traz novos desafios e metas mais ousadas como: redução em 95% dos óbitos e 90% da incidência até 2030, além de nenhuma família sofrendo os custos catastróficos relacionados à doença.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ministério da Saúde publica resultado final do edital para seleção de projetos de base comunitária

Finalizado o período para recurso, o resultado final do Edital nº 1, de 14 de fevereiro de 2014 para seleção de projetos de base comunitária a serem desenvolvidos por instituições privadas, sem fins lucrativos, foi  publicado no Diário Oficial da União nº 198, de 14 de outubro de 2014, págs. 51/52.

Acesse o DOU aqui.




quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Cinema é antídoto contra a tuberculose

Por  Sol Mendonça | Redação Viva Favela | RJ


Cinema é entretenimento, mas seu conteúdo também pode ser um meio de ajudar as pessoas a romper com o estigma, o preconceito, o medo e a falta de informação em questões urgentes de saúde pública, como as epidemias. 

Apostando nesta ideia, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou o segundo edital de vídeos sobre saúde e selecionou o documentário “Doenças Negligenciadas – Tuberculose Tem Cura”,  produzido pela Ventura Filmes e codirigido com a Contrafluxo Digital, com previsão de lançamento para março de 2015.

Filmado em setembro na favela da Rocinha, Rio de Janeiro, em Recife, Manaus e numa região indígena, na Amazônia, o documentário aborda a tuberculose, uma doença com tratamento e cura, mas que infelizmente ainda mata muitas pessoas, inclusive crianças, no Brasil. Para os realizadores e a patrocinadora do filme, doenças que atingem principalmente os países e as populações mais pobres precisam estar na pauta do dia. Por isso, este foi o tema escolhido entre os 40 outros inscritos. 

Essa é a segunda vez que a Fiocruz investe em vídeos independentes que abordam questões relevantes para a saúde pública. O valor do patrocínio é de mais de R$170 mil.

“A Fiocruz sempre teve foco na comunicação”, diz o professor de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde (ENSP-Fiocruz), José Wellington Araújo, que também faz parte do Conselho Curador do selo Fiocruz Video, responsável pela área de audiovisual da empresa. “Na década de 1910, os pesquisadores da Fiocruz já viajavam, fotografando e documentando o interior do Brasil. Eles estavam fazendo comunicação”, explica. “E o que isso tem de importante? A saúde não é só distribuição de remédios, a informação sobre prevenção e tratamento é o verdadeiro antídoto”. 

O editor do selo Fiocruz Video, Homero Teixeira de Carvalho, conta que a instituição tem um acervo de produções próprias com 8 mil filmes. Este material está disponível para cópia gratuita a 300 usuários cadastrados em todo o Brasil, como secretarias de saúde, escolas e universidades públicas e associações de moradores. Além disso, qualquer pessoa pode escolher um vídeo deste catálogo e comprar em formato DVD (com capa e fotos) a preço de custo (R$ 10,00 em média). É uma fonte pública de pesquisa e está disponível no site da Fiocruz. 

Ao contrário do primeiro edital para a produção de novos vídeos, em que os temas eram livres, desta vez alguns assuntos foram sugeridos pelos organizadores. O professor José Wellington defendeu as doenças negligenciadas, ou seja, doenças que afetam as áreas e as populações pobres: “Há uma negligência de políticas públicas em saneamento básico, habitação e manejo ambiental nas regiões pobres. As doenças são negligenciadas pelos órgãos públicos”, alerta. 

No filme, o agente conduz à cura

A cineasta Ieda Rozenfeld sempre se interessou em fazer filmes que tratassem de temas sociais. Fez curso de cinema etnográfico na Fiocruz e, em seguida, foi ao Acre filmar o documentário “Doenças Pós-Enchentes” em uma área de extrema pobreza. A experiência mexeu com ela. “Vi que muitos problemas de saúde pública ainda acontecem por falta de informação”, diz ela, que também perdeu um irmão vítima de tuberculose. “As pessoas vivem em condições precárias e isto é agravado porque elas não sabem o perigo que estão correndo”, desabafa.  

Quando soube do edital, Ieda procurou uma produtora que tivesse experiência com cinema em favelas e encontrou na Ventura Filmes a parceria perfeita. André Di Kabulla, sócio e diretor, diz que sempre se incomodou com a falta de interesse dos cineastas pelo assunto: “Desde a faculdade, meus sócios e eu percebemos que todo mundo era mais voltado para a Zona Sul do Rio e para o cinema francês. Queríamos falar do outro lado da cidade. A Ventura é, por essência, uma produtora de periferia, que faz filmes sobre cultura popular, como as rodas de samba do subúrbio. O projeto da Ieda interessou porque falava dos moradores de rua, da população carcerária, dos indígenas e dos moradores de favelas”, conta ele.

A primeira parada da equipe foi a favela da Rocinha, São Conrado, na Zona Sul do Rio, local conhecido por seus becos estreitos e aglomerados habitacionais. O ambiente é perfeito para a proliferação de doenças transmitidas pelo ar, caso da tuberculose. Em seguida, eles filmaram com a população carcerária e moradores de rua de Recife. As últimas filmagens aconteceram no Amazonas, partindo de Manaus, parando em Nova Olinda do Norte e, por fim, em Kuata Laranjal, na região da etnia indígena Munduruku. “Fomos a primeira equipe de filmagem a entrar lá”, orgulha-se.

Na Rocinha, a equipe conheceu Rita Smith, ex-paciente de tuberculose, moradora da Rua 4 (famosa por concentrar casos de tuberculose) e ex-agente comunitária de saúde. Rita é conhecida por onde passa. No documentário, virou protagonista.  André explica que o que seria um filme de uma instituição de saúde, com os especialistas à frente e ilustrado com imagens, acabou se tornando um documentário onde o agente de saúde é o protagonista.

No filme, é Rita quem conduz os realizadores, o que o torna essencialmente humano. “Ao descobri-la, descobrimos a essência do filme. O que fizemos no resto do Brasil foi cópia do que foi feito na Rocinha”. Já a diretora diz que Rita é exemplo de alguém que venceu a tuberculose: “A história dela merece ser conhecida. Ela é um modelo para quem acredita que está no fundo do poço”. Rita não só venceu, como ajudou outros na comunidade. Em 11 anos atuando como agente de saúde na Rocinha, ela se orgulha de nunca ter perdido um paciente durante o tratamento. Todos se curaram. Ela tem motivos para comemorar.

O abandono do tratamento é uma das questões importantes que o filme aborda. No caso da tuberculose, esta ainda é considerada uma questão grave. Mas quando o paciente interrompe o tratamento, de quem é a culpa? Rita pergunta: “Ele abandona ou é abandonado? Longe de mim querer apontar inocente e culpado, a gente tem que procurar a solução.” O professor José Wellington parece concordar. “A Organização Mundial da Saúde admite 5% de abandono. Acima de 10%, considera-se que é o sistema que está abandonando o paciente. O melhor agente de saúde é o paciente que se curou”, conclui.

Enquanto o documentário não é lançado, é possível acompanhar a produção com fotos e material de pesquisa nas redes sociais. Acesse a fanpage “Documentário Doenças negligenciadas: Tuberculose tem cura” no Facebook e veja fotos das filmagens. 



terça-feira, 7 de outubro de 2014

Fiocruz obtém registro para produzir iso+rifam, medicamento contra tuberculose



O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) obteve da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o registro para a produção do isoniazida+rifampicina (150 mg+ 300 mg), um importante medicamento usado no tratamento de pacientes com tuberculose. O deferimento foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) na última segunda-feira (29/9), por meio da Resolução nº 3.810, publicada na semana passada (26/9).

O iso+rifam, como é popularmente chamado, passa a ser o terceiro medicamento a compor o portfólio de Farmanguinhos contra essa doença negligenciada. A mesma Resolução confere também à unidade o direito de produzir o anti-helmíntico do trato gastrointestinal praziquantel 600 mg nas instalações do Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM). No caso deste medicamento especificamente, foi alterado somente o local de fabricação, já que era produzido nas instalações na fábrica do campus de Manguinhos.

Além do composto iso+rifam, Farmanguinhos tem uma linha de medicamentos especificamente voltada para o tratamento da tuberculose. O Instituto produz etionamida, isoniazida. A unidade vai produzir ainda o 4 em 1, tuberculostático que reúne quatro fármacos em um único comprimido: isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida. Essa formulação em dose fixa combinada é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a forma mais eficaz de combate à tuberculose. A unidade aguarda o registro concedido pela Anvisa para iniciar a produção.

Mais de 70 mil casos da doença em 2013

A produção do 4 em 1 será possível graças a uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) entre Farmanguinhos e o laboratório indiano Lupin. Além de ampliar a adesão ao tratamento, a redução no número de comprimidos deve diminuir as taxas de abandono do tratamento, um dos principais problemas na terapia contra a tuberculose. Outro benefício é que a nacionalização da tecnologia vai gerar uma economia aos cofres públicos. De acordo com o Ministério da Saúde, anualmente, o Brasil gasta cerca de R$ 11 milhões em ações contra a tuberculose.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde no Dia de Luta contra a Tuberculose (24/3) mostram que o Brasil registrou 71.123 novos casos da doença em 2013. Já os dados sobre o número de mortes por tuberculose divulgados pelo Ministério são referentes a 2012 e indicam um total de 4.406 óbitos. A população mais vulnerável se concentra em moradores de rua, cujo risco de infecção é 44 vezes maior do que na população geral. Em seguida, estão as pessoas com HIV/Aids (risco 35 vezes maior); população carcerária (risco 28 vezes maior) e indígenas (risco três vezes maior).