As estratégias para o controle de doenças transmissíveis em populações de maior vulnerabilidade foram discutidas na última sexta-feira (20) no Ciclo de Estudos, evento promovido em Brasília (DF) pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. O debate incluiu temas como o impacto das ações de proteção social na redução dos casos de doenças relacionadas à pobreza, a detecção e tratamento da tuberculose em presídios e a Campanha Nacional de Hanseníase, Geo-helmintíases e Tracoma.
As palestras do encontro foram ministradas pelo professor Maurício Lima Barreto, da Universidade Federal da Bahia, pela assessora Daniele Chaves Kuhleis, do Programa Nacional de Controle da Tuberculose da SVS, e pela assessora Jeann Marie da Rocha Marcelino, da Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação da SVS. A mediadora da sessão foi a diretora substituta do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da SVS, Wanessa Tenório de Oliveira.
Impacto das ações de proteção social
A apresentação de Maurício Barreto teve início com a exibição de um gráfico que demonstra a redução, entre 1930 e 2007, da participação das doenças infecciosas no total de óbitos no Brasil, em comparação com outras causas. Em 1930, quase metade das mortes ocorreu por doenças infecciosas. Em 2007, o percentual caiu para menos de 10%. “Isso é um reflexo de avanços que aconteceram no Brasil”, afirmou o professor, que citou os seguintes exemplos: a melhoria da qualidade da água, a ampliação do saneamento básico e a oferta de vacinas e tratamento. “Os sucessos, mesmo que parciais, no controle das doenças infecciosas, podem ser atribuídos ao sucesso das políticas públicas, muitas delas consideradas bastante eficientes, apesar de algumas ressalvas”, completou.
A crescente urbanização foi considerada um desafio do momento atual. “Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde e programas de transferência de renda e outros nas áreas sociais e ambientais são cruciais para o controle dessas doenças”, constatou. Ao tratar dos programas de transferência de renda, falou sobre o Bolsa Família, destacando a importância das condicionalidades que estimulam o acesso à educação e à saúde. Demonstrou, ainda, resultados de estudos que revelam o impacto positivo de políticas sociais nos índices de saúde.
Detecção e tratamento da tuberculose em presídios
Daniele Chaves Kuhleis apresentou dados de incidência e de casos novos de tuberculose nos presídios. Em 2014, o coeficiente de incidência no Brasil foi de 915,5 casos por 100 mil habitantes. No mesmo ano, apesar de a população privada de liberdade representar aproximadamente 0,3% da população brasileira, ela contribuiu com 7,3% dos casos novos de tuberculose notificados no país.
Além disso, é particularmente elevada a frequência de formas resistentes associadas ao tratamento irregular e à detecção tardia nesse grupo populacional. Por isso, ela ressaltou a relevância do desenvolvimento de estratégias de comunicação no sistema prisional, com mensagens que estimulem o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento sem interrupções.
A palestrante também discorreu sobre projeto iniciado no Presídio Central de Porto Alegre (RS). A iniciativa investiga a presença dos principais sintomas da doença em sua porta de entrada e oferece o exame de raio X de tórax para toda a população privada de liberdade. Nas pessoas com resultado de raio X de tórax suspeito ou tosse, são realizados o teste rápido molecular e a cultura no laboratório do presídio. Com essa rotina, é possível identificar a tuberculose precocemente e evitar que o bacilo seja transmitido para a comunidade interna e externa do presídio.
Entre outubro de 2014 e junho de 2015, foram diagnosticados 225 casos de tuberculose no Presídio Central de Porto Alegre, com uma prevalência de 3.083 casos por 100 mil habitantes. Foram avaliados 7.299 pacientes, a grande maioria (89,3%) no momento de entrada, sendo que 17,9% apresentaram raio X alterado. O teste de HIV foi feito por 48% das pessoas analisadas e 3,2% receberam resultado positivo.
A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa por via aérea. O ambiente carcerário favorece a transmissão devido, principalmente, à superpopulação e à ausência de ventilação e luz solar adequadas.
Clique aqui para acessar o texto "Alcançando a tuberculose no sistema prisional".
Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses e Tracoma
A palestra de Jeann Marie Marcelino abordou a Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses e Tracoma do Ministério da Saúde. Desde 10 de agosto, a iniciativa tem mobilizado agentes comunitários da saúde, equipes da estratégia de Saúde da Família, profissionais da educação e a sociedade civil de 2.339 municípios brasileiros com alta carga dessas doenças ou maior vulnerabilidade a este conjunto de doenças. Esta ação tem como público-alvo os estudantes da rede pública do ensino fundamental na faixa etária de 5 a 14 anos.
Os resultados parciais apontam que mais de 5,3 milhões de escolares receberam a ficha de autoimagem, cerca de 4 milhões devolveram a ficha à escola, 172 casos de hanseníase já foram diagnosticados e mais de 4,5 milhões de crianças foram tratadas para verminoses. Mais de 600 mil escolares foram examinados para tracoma e mais de 17 mil casos positivos foram encontrados até o momento. O fechamento dos dados ocorrerá no dia 29 de novembro.
A estratégia constitui-se na busca ativa de casos para diagnóstico precoce da hanseníase através da avaliação dos casos suspeitos identificados por meio do preenchimento da ficha de autoimagem, no tratamento quimioprofilático com albendazol para a redução da carga parasitária de geo-helmintíases e busca ativa de tracoma por meio de exame ocular externo, com tratamento dos positivos e seus contatos.
Houve uma significativa ampliação na cobertura da campanha, passando de 852 municípios em 2013 para 1.944 em 2014. Em 2014, a Campanha teve os seguintes resultados: 5,6 milhões de estudantes receberam a ficha de autoimagem, destes 4,1 milhões responderam, representando 74% do total; 231.247 alunos (5,6%) foram encaminhados às unidades de saúde para confirmação do diagnóstico; 354 (0,15%) crianças foram diagnosticadas com hanseníase. Os contatos destas crianças também foram registrados e examinados, de forma que 73 casos foram diagnosticados entre os contatos intradomiciliares dos casos novos diagnosticados na Campanha. Além disso, foram tratados 4.754.092 alunos para verminoses e 25.173 escolares foram diagnosticados para tracoma.
As palestras do encontro foram ministradas pelo professor Maurício Lima Barreto, da Universidade Federal da Bahia, pela assessora Daniele Chaves Kuhleis, do Programa Nacional de Controle da Tuberculose da SVS, e pela assessora Jeann Marie da Rocha Marcelino, da Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação da SVS. A mediadora da sessão foi a diretora substituta do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da SVS, Wanessa Tenório de Oliveira.
Impacto das ações de proteção social
A apresentação de Maurício Barreto teve início com a exibição de um gráfico que demonstra a redução, entre 1930 e 2007, da participação das doenças infecciosas no total de óbitos no Brasil, em comparação com outras causas. Em 1930, quase metade das mortes ocorreu por doenças infecciosas. Em 2007, o percentual caiu para menos de 10%. “Isso é um reflexo de avanços que aconteceram no Brasil”, afirmou o professor, que citou os seguintes exemplos: a melhoria da qualidade da água, a ampliação do saneamento básico e a oferta de vacinas e tratamento. “Os sucessos, mesmo que parciais, no controle das doenças infecciosas, podem ser atribuídos ao sucesso das políticas públicas, muitas delas consideradas bastante eficientes, apesar de algumas ressalvas”, completou.
A crescente urbanização foi considerada um desafio do momento atual. “Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde e programas de transferência de renda e outros nas áreas sociais e ambientais são cruciais para o controle dessas doenças”, constatou. Ao tratar dos programas de transferência de renda, falou sobre o Bolsa Família, destacando a importância das condicionalidades que estimulam o acesso à educação e à saúde. Demonstrou, ainda, resultados de estudos que revelam o impacto positivo de políticas sociais nos índices de saúde.
Detecção e tratamento da tuberculose em presídios
Daniele Chaves Kuhleis apresentou dados de incidência e de casos novos de tuberculose nos presídios. Em 2014, o coeficiente de incidência no Brasil foi de 915,5 casos por 100 mil habitantes. No mesmo ano, apesar de a população privada de liberdade representar aproximadamente 0,3% da população brasileira, ela contribuiu com 7,3% dos casos novos de tuberculose notificados no país.
Além disso, é particularmente elevada a frequência de formas resistentes associadas ao tratamento irregular e à detecção tardia nesse grupo populacional. Por isso, ela ressaltou a relevância do desenvolvimento de estratégias de comunicação no sistema prisional, com mensagens que estimulem o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento sem interrupções.
A palestrante também discorreu sobre projeto iniciado no Presídio Central de Porto Alegre (RS). A iniciativa investiga a presença dos principais sintomas da doença em sua porta de entrada e oferece o exame de raio X de tórax para toda a população privada de liberdade. Nas pessoas com resultado de raio X de tórax suspeito ou tosse, são realizados o teste rápido molecular e a cultura no laboratório do presídio. Com essa rotina, é possível identificar a tuberculose precocemente e evitar que o bacilo seja transmitido para a comunidade interna e externa do presídio.
Entre outubro de 2014 e junho de 2015, foram diagnosticados 225 casos de tuberculose no Presídio Central de Porto Alegre, com uma prevalência de 3.083 casos por 100 mil habitantes. Foram avaliados 7.299 pacientes, a grande maioria (89,3%) no momento de entrada, sendo que 17,9% apresentaram raio X alterado. O teste de HIV foi feito por 48% das pessoas analisadas e 3,2% receberam resultado positivo.
A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa por via aérea. O ambiente carcerário favorece a transmissão devido, principalmente, à superpopulação e à ausência de ventilação e luz solar adequadas.
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Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses e Tracoma
A palestra de Jeann Marie Marcelino abordou a Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses e Tracoma do Ministério da Saúde. Desde 10 de agosto, a iniciativa tem mobilizado agentes comunitários da saúde, equipes da estratégia de Saúde da Família, profissionais da educação e a sociedade civil de 2.339 municípios brasileiros com alta carga dessas doenças ou maior vulnerabilidade a este conjunto de doenças. Esta ação tem como público-alvo os estudantes da rede pública do ensino fundamental na faixa etária de 5 a 14 anos.
Os resultados parciais apontam que mais de 5,3 milhões de escolares receberam a ficha de autoimagem, cerca de 4 milhões devolveram a ficha à escola, 172 casos de hanseníase já foram diagnosticados e mais de 4,5 milhões de crianças foram tratadas para verminoses. Mais de 600 mil escolares foram examinados para tracoma e mais de 17 mil casos positivos foram encontrados até o momento. O fechamento dos dados ocorrerá no dia 29 de novembro.
A estratégia constitui-se na busca ativa de casos para diagnóstico precoce da hanseníase através da avaliação dos casos suspeitos identificados por meio do preenchimento da ficha de autoimagem, no tratamento quimioprofilático com albendazol para a redução da carga parasitária de geo-helmintíases e busca ativa de tracoma por meio de exame ocular externo, com tratamento dos positivos e seus contatos.
Houve uma significativa ampliação na cobertura da campanha, passando de 852 municípios em 2013 para 1.944 em 2014. Em 2014, a Campanha teve os seguintes resultados: 5,6 milhões de estudantes receberam a ficha de autoimagem, destes 4,1 milhões responderam, representando 74% do total; 231.247 alunos (5,6%) foram encaminhados às unidades de saúde para confirmação do diagnóstico; 354 (0,15%) crianças foram diagnosticadas com hanseníase. Os contatos destas crianças também foram registrados e examinados, de forma que 73 casos foram diagnosticados entre os contatos intradomiciliares dos casos novos diagnosticados na Campanha. Além disso, foram tratados 4.754.092 alunos para verminoses e 25.173 escolares foram diagnosticados para tracoma.