terça-feira, 12 de março de 2019

Tuberculose na mira - População de baixa renda é a mais atingida pela doença que matou 400 pessoas em Pernambuco no ano passado

Fonte: Alepe - Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco


Tosse por mais de três semanas, febre baixa, emagrecimento e suor noturno. Esses são alguns dos sintomas da tuberculose. Apesar de ter cura, por meio de um tratamento relativamente simples, a doença foi a causa da morte de 400 pessoas em Pernambuco no ano de 2018, entre os mais de 4 mil pacientes que receberam o diagnóstico. As vítimas fatais geralmente fazem parte da população de baixa renda.

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O Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose, esforço conjunto de pesquisadores, ativistas e Governo Federal, tem por meta zerar as mortes até 2035. De acordo com o documento, Pernambuco foi o quarto Estado brasileiro em incidência da doença em 2016 e o segundo em mortalidade em 2015. Já o Recife liderou este último indicador entre as capitais, com quase 8 mortes por 100 mil habitantes.

Medicação para combater a bactéria que causa a doença é fornecida gratuitamente pelo SUS. Tratamento dura no mínimo seis meses.

Coordenadora do Programa de Controle da Tuberculose da Secretaria Estadual de Saúde,  Cândida Ribeiro explica que a medicação para combater a bactéria que causa a doença é fornecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento dura no mínimo seis meses. Na primeira fase, chamada de ataque, o paciente toma quatro drogas em um único comprimido por dois meses. Depois, vem a fase de manutenção, que dura mais quatro meses.

Cândida alerta para a necessidade de concluir o tratamento. “Na fase de ataque, os pacientes melhoram muito. Os sintomas chegam, em alguns casos, a desaparecer. Daí as pessoas acham que estão curadas e começam a negligenciar o restante do tratamento: tomar o remédio dia sim, dia não, ou achar que não é mais importante”, relata. “Quando isso ocorre, mesmo já estando sem sintomas, a possibilidade de a doença voltar muito mais forte do que antes é bem grande.”

Outro risco, de acordo com a gestora, é o de os sintomas persistirem e causarem danos permanentes ao pulmão do paciente. “Às vezes acontece até de a pessoa não morrer, mas ficar com déficit respiratório, porque o órgão foi muito danificado”, complementa Cândida.

Causada pelo bacilo de Koch, a tuberculose atinge, principalmente, os pulmões, mas pode chegar a outros órgãos. O contágio se dá por tosse, espirro e gotículas de saliva da fala. Por isso, é recomendado proteger a boca com um lenço ao tossir ou usar máscaras protetoras para evitar a contaminação.

Grupos vulneráveis

Além do poder público, a sociedade civil organizada também trabalha no combate à enfermidade. A organização não governamental Gestos, sediada no Recife, integra a Parceria Brasileira Contra a Tuberculose e o Comitê de Enfrentamento à Tuberculose em Pernambuco. De acordo com Jair Brandão, representante da entidade, o Estado é um dos que tem maior incidência da infecção no Brasil.

“A tuberculose é a doença oportunista que mais mata pessoas com Aids no mundo. Ainda é um problema sério”, afirma. “No Brasil, Pernambuco é um mau exemplo, porque tanto o Estado quanto Recife estão nos primeiros lugares do País em prevalência da tuberculose e óbitos.”

A questão da incidência da tuberculose em pacientes soropositivos foi discutida na Alepe em 2015, durante os trabalhos da Comissão Especial de Combate ao HIV/Aids, Tuberculose e Hepatite. De acordo com a então presidente do colegiado, deputada Teresa Leitão (PT), a baixa imunidade deixa esse grupo mais suscetível à infecção pulmonar, principalmente quando há interrupção no uso dos medicamentos antirretrovirais.

DEBATE – Incidência da tuberculose em pacientes soropositivos foi discutida na Alepe em 2015. Foto: Rinaldo Marques/Arquivo

A parlamentar diz que moradores de rua e pessoas que cumprem pena em unidades prisionais também são vulneráveis por conta das condições a que são submetidos: “Pela exposição ao sol, ao frio, além da alimentação precária ou, às vezes, inexistente”, observa. “E o nosso sistema carcerário é um paiol de pólvora: a superlotação, a falta de higiene, a dificuldade em banhos de sol, toda essa rotina, aliada à falta de medicação.” O relatório do colegiado indicou a necessidade de ação mais sistemática e global de saúde pública voltada para essa população.

Jair Brandão acrescenta que as condições precárias em que vivem as parcelas mais pobres da população fazem com que a doença se dissemine com mais facilidade. “Infelizmente, a tuberculose hoje é uma doença da pobreza. Não estigmatizando quem é pobre, pelo contrário, colocando que isso ocorre por falta de acesso a saúde de qualidade, saneamento básico e informações. Falta a sociedade saber que a tuberculose ainda é um problema de saúde pública e tem muitas pessoas morrendo por conta dela”, ressalta o ativista da Gestos.